domingo, 20 de novembro de 2011

Meditação

Faço aqui um apanhado das principais técnicas meditativas, no contexto budista, que conheço e pratico. Antes de mais penso que a meditação deve ser sempre direccionada para uma experiência mais aprofundada da realidade tal como ela é, e para a vivência plena do momento presente. Em seguida, é importante frisar que, começando pela meditação formal (bastam 5 minutos diários, a altura mais recomendada é ao acordar ou então antes de adormecer), em que nos sentamos, com as costas bem erectas e com as pernas cruzadas (e eu recomendo o mais possível de olhos abertos), passamos à meditação informal, em que meditamos durante todo o dia e até involuntariamente, tal é a força do hábito. É necessário frisar que é bom termos uma prática regular de meditação todos os dias (5 minutos todos os dias são melhores que duas horas todos os sábados), e que o nosso objectivo é transportar as boas características da nossa prática formal para o quotidiano de todos os momentos. É importante também uma perspectiva jovial, como se cada momento fosse novo e cheio de impacto e nós não conseguíssemos percebê-lo na totalidade do seu impacto. É importante perceber que, se praticarmos várias técnicas ao mesmo tempo, surgirão conflitos entre as várias técnicas. No entanto, por experiência própria, elas acabam por se encaixar todas numa única prática. Vamos então às técnicas que conheço, agrupadas por títulos. Esta tipologia pode diferir de outras, porque há muitas técnicas diferentes, e eu também não sou nenhum mestre, nem sou detentor da única verdade última:

1. samatha (acalmamento / relaxamento)
  • Entre o fim de um pensamento e o começo de outro, há um intervalo. Tente alargá-lo, e repousar na tranquilidade da ausência de pensamentos.
  • Tente respirar mais lentamente.
  • Relaxar a zona entre os olhos, pela simples razão de normalmente quando nos irritamos franzimos esta zona.
  • Não se identifique com os pensamentos, nem lhes dê "trela". Se surgirem pensamentos, deve, calmamente, continuar com a sua prática.
  • Pode, com o tempo, verificar que há alguma coisa que o impede de se distrair e o faz voltar a concentrar-se. Recorra a esse truque quando se sentir muito distraído(a).
  • Se surgirem pensamentos, pode também misturá-los com os barulhos ou outras sensações do mundo natural à sua volta, como o som do oceano ou da chuva, dos pássaros, ou até com o som do trânsito, embora esta última seja mais difícil.
2. vipassanā (atenção)
  • Com a mente atenta e clara, o praticante deve estar atento à realidade tal como ela é, sabendo claramente se está num determinado estado ou noutro. O Buda sugere na Satipatthana Sutta que o praticante esteja atento a quatro grandes temas (corpo, sensações, mente, e conceitos abstractos), que incluem diversos sub-temas. A atenção à respiração (anapanasati) é particularmente popular e pode servir de base para a atenção a outros fenómenos. O Buda disse que a atenção é a base da realização. Pessoalmente, penso que podemos equacionar o vipassanā com o conhecimento científico e a capacidade discriminante da mente.
3. meditações tibetanas

Pessoalmente, considero estas meditações bastante mais alucinatórias do que as anteriores, no sentido de não procurarem tanto a realidade tal como ela é, desprovida de qualidades mentais, mas sim uma abstracção. Por exemplo, na prática do tonglen, é óbvio que na realidade tal como ela é, não há coisas boas nem más, o que impossibilitaria a sua prática. Isto não quer dizer que o seu objectivo, ou o objectivo da prática do budismo tibetano, não seja alcançar a realidade tal como é.
  • tonglen: A cada inspiração dizemos: que todo o mal fique comigo. A cada expiração dizemos: que todo o bem vá para vocês. Ao inspirarmos, podemos imaginar que estamos a respirar uma nuvem negra. Esta nuvem é purificada pelo bem que existe em nós, e qundo expiramos, expiramos bem.
  • phowa: É a união de uma consciência com uma consciência divina. Os tibetanos costumam fazê-la com uma imagem de uma divindade ou com uma bola de luz imaginada. Eu pessoalmente tendo mais a fazê-lo num contexto de advaita vedanta, uma escola hindu: como tudo é divino, o que faço é misturar tudo o que vejo e chamá-lo divino. Depois fico com uma espécie de "master phowa", ou seja, aquilo que reúne as boas características de todos os objectos com que pratiquei phowa, e tenho tendência a usar mais este.
4. recitação de mantras
  • A mantra é uma palavra que repetimos muitas vezes. A minha mantra é "Que todos os seres sejam felizes", da Metta Sutta, e também "A forma é o mesmo que o vazio", da Prajñāpāramitā Hṛdaya Sutra.
Ficou por explicar, por falta de informação e porque também não são práticas minhas: Os jhanas e as oito libertações, o dzogchen, e muitas mais. Ver por exemplo as pebble meditations de Thich Nhat Hanh e as tradições meditativas não-budistas.

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