sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Bizarro

Vou tentar entrar em território desconhecido aqui. O budista é uma pessoa que tem um compromisso com a verdade. E a verdade, curiosamente, não existe, ou refere-se a múltiplas relações impossíveis de descrever exactamente. O Buda exortou-nos repetidamente a pensarmos bem naquilo em que acreditamos realmente, questionando tudo o que há para questionar. Ele deu-nos algumas ferramentas para podermos determinar as causas das coisas, como as quatro fundações da atenção usadas na meditação vipassana (corpo, sensações, mente, conceitos abstractos). Exortou-nos ainda a refinarmos as nossas mentes como quem refina ouro. Eu sou uma pessoa céptica, científica, mas é por causa do meu compromisso com a verdade, que penso que tenho de falar aqui de algumas coisa misteriosas que se passaram e passam comigo.

1 – A deficiente telepata – recentemente entrei em contacto com uma miúda com uma deficiência mental, um ser único e especial como qualquer ser vivo, igual aos outros como qualquer indivíduo, mas que me parece que tem um poder grande e evidente, misturado com sofrimento. Ela está sempre a murmurar coisas para si própria. É muito desastrada e parece-me ter muito pouca concentração. Mas eu sou capaz de jurar perante qualquer autoridade que ela me consegue ler os pensamentos. Foram pensamentos... que eu apenas sabia parcialmente que estava a pensar...e um bocado desagradáveis, que revelaram uma faceta de mim que eu pensava que não existisse. Tentei forçar o jogo, levando-me a pensar coisas realmente mal educadas, a ver se ela as repetia... mas ela nunca ultrapassou os limites da boa educação....ultrapassou isso sim os limites da minha consciência de mim próprio...sempre que eu de certa forma, me “iludia”, de que estava tudo sobre controle, ela dizia aquilo que eu estava a pensar, deixando-me embaraçado e até com vontade de sair dali rapidamente.... Tal é o poder do ego, um rei que vive afinal num castelo de cartas (mas bem enraizado sabe-se lá em que conceitos fixos ou transitáveis)! Os tibetanos acreditam no “bardo”, uma série de estados que acontecem nesta vida e depois dela em que há uma grande incerteza, em que o ego e a força do hábito são desmascarados como impotentes, e em que a libertação é mais fácil. Será esta miúda uma “máquina” de criar bardos natural? Mas penso que toda a vida é um bardo... De resto já tive outras experiências semi-telepáticas... a minha mente já foi mesmo um veículo dos pensamentos de outros....O que é que isto tem de especial ?

2 – O hamster que medita – acho que o meu hamster me deu uma lição de como meditar, de uma paz de espírito inabalável e de uma grande confiança no mundo... ou será só um roedor assustado?

3- O nó complicado no meu olho direito – quando a luz incide num certo ângulo, é fácil ver um complicado nó no interior do meu olho direito. O que é isto e como é que se formou? Na minha última consulta, o médico não detectou nada... Espero que não seja um “nó kármico”... Algo que nem sei o que é...Noutros ângulos, este mesmo nó parece meramente uma massa informe, e às vezes nem está presente...

4- Objectos exóticos e poeiras que interagem com o meu cérebro e os meus olhos – No Sutra Diamante, afirma-se que “todos os objectos compostos são como sonhos, fantasmas, gotas de orvalho, ou raios de tempestade”. Tento encarar isto como uma metáfora para a falta de essência inerente, transitoriedade, e interrelação dos objectos do mundo. Mas às vezes parece que eu, o mundo, ou ideias que tenho, são fisicamente comparáveis a poeiras vivas.... Porque interagem uns com os outros pela força do hábito / acções passadas e pela força da minha consciência.... E mais... por vezes parece que se eu quiser afirmar alguma coisa sobre o mundo, mesmo que pareça que não o conseguirei fazer sem ser atacado por poeiras, uma qualquer força segurará o valor da minha palavra e torná-la-á válida, na minha própria narrativa (e sabe-se lá em que relações é que essa narrativa entra...)...O jogo joga-se a si próprio, ignorando que é jogo..... É isto um sinal da mente universal que protege um dos seus, ou que protege a verdade?

Em abono da verdade, é bom dizer que o autor destas palavras já tomou drogas bem pesadas, mas também afirmo solenemente que tudo o que disse é mesmo verdade...Como na maior parte das dúvidas, a verdade encontrar-se-á provavelmente mais ao meio....

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