domingo, 5 de fevereiro de 2012

2 kung-ans do imperador Tran Thai Tong (Séc XIII)

O que se segue são dois kung-ans (mais conhecidos pelo termo japonês koans) do imperador vietnamita Tran Thai Tong, que reinou no Séc XIII da era cristã. Um kung-an significa um "registo público", porque são pequenos textos que apontam para algum aspecto mais escondido da natureza da realidade, se estivermos atentos, e claro, se tivermos na nossa posse os dados necessários para interpretar o kung-an. O imperador Tran Thai Tong praticava activamente o budismo durante o seu reino e publicou dois livros, e os dois kung-ans que se apresentam são retirados de um dos quais, Khoa Hu (Lições sobre o Vazio). O primeiro não é estritamente um kung-an, mas penso que faz parte da introdução do livro.

1 Um monge disse: " Não mais permitir que a poeira vá para os meus olhos, não mais convidar a comichão a instalar-se coçando-me, esta é a minha visão do caminho. Acha que cheguei a algum lado ?"

O imperador respondeu: "A água que escorre pela montanha não pensa que escorre pela montanha. A nuvem que deixa o vale não pensa que deixa o vale."

O monge ficou silencioso. O imperador continuou "Não penses que o não-pensar é o caminho. O não-pensar está longe do caminho."

O monge respondeu: "Se é mesmo uma questão de não pensar, como podemos dizer se é longe ou perto ?"

O imperador disse: "A água que escorre pela montanha não pensa que escorre pela montanha. A nuvem que deixa o vale não pensa que deixa o vale."

2 Caso - O Mestre Nacional Vo Nghiep diz, " Se houver uma discriminação, mesmo do tamanho de uma ponta de cabelo, entre iluminação e não-iluminação, isso causará que as pessoas renasçam como cavalos e burros. O monge Bach Van Doan responde, "Mesmo que essa discriminação desapareça, as pessoas ainda renascerão como cavalos e burros".

Comentário - Se queimar a floresta, os tigres fugirão. Se agitar os arbustos, as cobras terão medo.

Verso -
Que frase idiota !
Para quê incomodar-se a atemorizar cobras ?
Se souberes o caminho para a capital,
Não precisas de perguntar a ninguém.


Fonte: Thich Nhat Hanh - "Zen Keys"

2 comentários:

  1. O Budismo tibetano é muito avançado, daí que aponte somente quatro portas para a entrada no Dharma.
    Portanto, no cabeçalho deste blog "Algumas das infinitas portas de entrada no Dharma que se podem encontrar na realidade quotidiana..." Assim, "...infinitas portas..." foram 'compactadas' em quatro portas.
    Quem quiser ir mais além, convém que se comprometa com um Lama verdadeiro, genuíno. Deixará de andar a debicar grãos como o fazem as aves. Renascer como "...cavalos e burros..." ou como aves não existe nenhuma diferença.

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    1. Podia elaborar melhor a sua ideia. Que 4 portas são essas? Quanto a mim, segui o que diz a Sutra Avatamsaka, que toda e quelquer coisa pode ser um tesouro de pensamento correto e uma porta de entrada para o dharma, daí o termo "infinito", que é só um termo. Quanto aos lamas, já tive essa discussão noutro sítio, nem toda a gente tem o previlégio de viver perto de uma grande cidade. Gosto muito do Dalai Lama e subscrevo-o no Facebook.

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